sexta-feira, 22 de maio de 2009

Memórias póstumas de Alfeu de Oliveira


Chegamos outra vez a São Paulo e desembarcamos na Estação Roosevelt, também conhecida como "Estação do Norte", devido à grande quantidade de migrantes nordestinos que a ela chegavam todos os dias. Ao sair da estação, procuramos um local para nos hospedar e refazer da longa viagem. A cidade já era conhecida de nossa família e na época não impressionava tanto. Fomos até um hotel que ficava bem ao lado da estação. Estávamos eu (que à época devia ter uns sete anos), meu pai João, minha mãe Silvina, minha irmã América (a mais velha, devia ter uns dezessete anos), minha outra irmã Alda (uns doze anos, eu acho) e o caçula Afrânio (um bebê, ainda). Chegamos ao hotel e lá descansamos, meu pai matutando o que faria naquela cidade pra sobreviver...
No dia seguinte saímos todos para procurar um lugar para comer melhor que o próprio hotel. Nos indicaram um restaurante que não era muito longe dali. Tomamos o rumo leste na avenida Rangel Pestana até chegar na avenida Celso Garcia, que à época era bastante estreita e não asfaltada. Na esquina desta com a rua Bresser se localizava o estabelecimento, o tal restaurante O Garoto.
Sentamos todos à volta de uma das mesas e logo um garçom veio nos atender. Após atender aos pedidos começou a conversar. Disse que seu nome era Sebastião e que conhecia uma hospedaria próxima ao Largo da Concórdia, no Brás, na qual poderíamos nos instalar de maneira mais confortável e barata do que o hotel. Ao mesmo tempo em que falava, olhava de vez em quando para América, que era muito bonita.
Após o almoço, Sebastião acompanhou-nos para mostrar onde era a tal hospedaria. A casa era simples, mas digna. No caminho ele ia conversando muito com meu pai e com América. Ao chegarmos, despediu-se, pois precisava voltar ao trabalho, colocando-se à disposição de meu pai para qualquer coisa. Antes de ir, o garçom nos deu várias moedas (para mim e para a Alda), o que nos deixou muito contentes. Mas a alegria não durou muito pois, mal Sebastião virou as costas, meu pai recolheu todas as moedas. É, assim foi nossa chegada definitiva à São Paulo, pois nunca mais deixaríamos a cidade novamente...

2 comentários:

Heraldo Fehra disse...

Nossa! Essas memórias são suas mesmo ou de um entrante?

Bill disse...

Bem, meu pai tinha muitas histórias que contava, às vezes com versões diferentes... Lembra da história do livro que meu pai começou a escrever e perdeu-se, possivelmente na enchente que enfrentamos? Um pouco do que está aí é do que eu lembro do que estava escrito nele, mas acho que rola uma sintonia aí também... E mais umas quase verdades, ligeiramente mentirosas... Abraço, mano!