Minha tia Alda deixou o mundo físico ontem, em sua casa (para a qual acabara de mudar-se, havia um mês) na qual morava sozinha. Parece que tomava café (havia uma casca de banana em cima da mesa e uma faca de pão em suas mãos), passou mal e caiu da cadeira. Coração, aparentemente... Foi encontrada por meu primo, Afraninho. Que ela esteja em paz...
Tia Alda nasceu em Nepomuceno, Minas Gerais, e veio com a família de mala e cuia para São Paulo. Era a segunda mais velha de quatro irmãos: minha tia América, ela, meu pai (já falecido) e o mais novo, este nascido em Pederneiras, Afrânio.
Sei que ela se casou ainda jovem com o Ribeiro, do qual me falaram que era uma pessoa muito boa, espírita, que gostava de festas e tudo o mais. Teve ainda uma filha, da qual não me recordo o nome, pois ela sempre se referia a ela com o apelido de Peixinha (acho que por ser do signo de peixes). A vida tirou-lhe rapidamente esta família recém-construída: o marido, por ataque cardíaco; a filha, por alguma doença infecciosa (coqueluche, talvez?). Nascida Alda de Oliveira, manteve até o fim o nome de casada, Alda Ribeiro da Luz.
Luz, realmente ela a tinha! Quando jovem, era uma mulher vistosa, que gostava de se arrumar bem, de jóias, de unhas pintadas de vermelho escuro, sempre bem grandes, de maquiagem e perfumes. Ao que consta, gostava muito de sair pra dançar e tudo o mais. Com tudo isso, não faltaram pretendentes, mas o único que a levou a se casar foi o Ribeiro. Depois dele, a viuvez, sem marido, sem filhos.
De sua vida profissional, lembro-me vagamente de ela ter trabalhado de copeira, se eu não me engano. Há tempos estava aposentada. Morou muitos anos de sua vida no Bixiga, numa casa alugada, primeiro com meu tio Afrânio, depois com meu pai, e por fim, sozinha. Apesar da idade, não queria morar com ninguém... Mudou-se dessa casa há um mês, como eu disse antes.
Minha tia era minha madrinha de batismo e gostava de referir-se a mim como seu afilhado! Quando eu era criança muito pequena, lembro de que ela gostava muito de passear comigo, me fazendo as vontades e me comprando doces! Um dos nossos passeios preferidos era ir às Lojas Americanas, na rua Direita, comer lanches e tomar sorvetes!
Lembro-me de que ela, meu pai e meu tio Afrânio gostavam muito de visitar-se, sentar-se à mesa e deixar o tempo passar, conversando e tomando uns drinques, rindo, lembrando do passado. Nas festas que meu pai sempre promovia, eles também se divertiam muito, sendo que tia Alda costumava dançar tango com o meu irmão Arnaldo, no que eram muito aplaudidos.
Espírita, constumava freqüentar centros na região do Bexiga, num dos quais ela chegou a me levar e, por eu ser criança, ela achava muito engraçado eu querer ir a esses lugares, e me chamava de Muzambinho.
Em minha vida adulta, já não tínhamos tanto contato. A última vez em que a vi foi quando ela foi à casa de meu pai, no aniversário dele, o último que comemorou antes de morrer (isso já faz uns cinco anos e pouco), no qual meu pai fez um grande churrasco que foi um arraso! Porém, falei com ela por telefone há mais ou menos uns três meses, quando liguei pra convidá-la pro meu casamento (mandei o convite por meu primo). Ela disse que gostaria muito de ir, mas que estava às voltas com a mudança e tudo o mais, mas desejou-me felicidades.
Alda, uma pessoa que viveu até certo ponto de maneira modesta, mas que procurou sempre viver o momento, e da qual trago boas lembranças, de sua beleza, simpatia e alegria e dos momentos em família que passamos. Obrigado, tia! Até mais ver.